Estudo V - ORAÇÕES DE PENITÊNCIA: Davi

"Compadece-Te de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade; e, segundo a multidão das Tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões." Salmo 51:1

HARRY ORCHARD FOI UM DOS MAIS NOTÓRIOS ASSASSINOS DE SUA ÉPOCA. Ele se envolveu nas guerras sangrentas entre os mineiros e seus patrões desde 1896 até 1905. Os primeiros sindicatos consideravam-se comprometidos com a revolução social contra "as forças capitalistas sem escrúpulos". Os líderes sindicalistas achavam que eram os salvadores das massas oprimidas. Sob sua direção, Orchard explodiu trens, moinhos e minas para intimidar os proprietários de minas, funcionários e agências governamentais e provocar um reino de terror. Ele tinha uma raiva especial de Frank Steunenberg, governador do Idaho, por ter quebrado o poder do sindicato naquele Estado. Em 30 de dezembro de 1905, ele plantou uma bomba na neve próxima à casa de Steunenberg para explodir quando o portão se abrisse. A enorme explosão matou Steunenberg e agitou a cidade de Caldwell. Orchard foi preso e encarcerado. Em sua cela, as terríveis cenas de sua vida passada o atormentavam. Ele pensou no suicídio, mas foi intimidado pelo pensamento do fogo do inferno. Uma pergunta o assombrava: "Deus pode perdoar um assassino?"

Este tema responde a essa pergunta e conta o resto da história de Harry Orchard.

Pecado, Encoberto e Revelado - II Sam. 11; 12

O rei Davi foi o maior rei de Israel – um valente menino pastor que venceu inimigos formidáveis, estendeu as fronteiras de Israel aos seus limites máximos e fundou Jerusalém como capital. Seus salmos influenciaram a adoração do povo de Deus por três mil anos. Ele se tornou antepassado e tipo de Cristo, o Messias. Porém, uma série de pecados vergonhosos arruinou a vida de Davi.

1. Que tentação levou à queda de Davi? II Sam. 11:1-4

As decisões tomadas no calor da paixão sempre são perigosas. Por que Davi foi vulnerável à tentação, bem naquele dia? A lisonja, as sutis seduções do poder e do luxo e a associação com as nações circundantes não eram toleradas entre os súditos, mas não eram condenadas no rei e diminuíram sua percepção da excessiva malignidade do pecado. "Logo que Satanás consiga separar de Deus o coração, única fonte de força, procurará ele despertar os desejos impuros da natureza carnal do homem. A obra do inimigo não é feita abruptamente; não é, ao princípio, súbita e surpreendente; é uma ação secreta de minar as fortalezas dos princípios." Satanás nos atrai passo a passo para longe de Deus, até nos separarmos dEle – e então, dispara a armadilha.

Veja as estratégias que Davi usou para encobrir seu pecado. II Sam. 11:5-27

O encobrimento foi pior que o erro inicial. O pecado o apanhou como um polvo. Quanto mais tentava tirar um tentáculo, mais emaranhado ele ficava. Quando achou que se havia livrado, ele descobriu que suas dificuldades estavam apenas começando (II Sam. 11:27; 12:10).

Como Deus levou Davi a perceber seu erro? II Sam. 12:1-14

Remorso e Arrependimento - Salmo 51:1-5

Davi escreveu o Salmo 51 na angústia do remorso e da repulsa própria. Este salmo não trata só das profundezas da culpa de Davi, mas do alcance mais amplo da salvação. Davi entregou esta oração ao músico principal a fim de que fosse cantada nos cultos públicos de adoração; assim, outros poderiam aprender da triste história de sua queda (Sal. 51, cabeçalho), como também sobre o poder de Deus para salvar até o mais miserável dos pecadores. Este é um belo comentário sobre a salvação pela fé em Cristo.

Qual foi a base da súplica de Davi por misericórdia? Sal. 51:1; Êxo. 34:6 e 7

Como amante da Torah – os livros de Moisés – Davi conhecia o caráter de seu Deus (Sal. 119:97). Talvez as próprias palavras de Êxodo 34:6 e 7, detalhando a revelação da glória de Deus (33:18), lhe tenham levado conforto na hora de pesar. O coração de Deus não pode resistir à súplica: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador!" (Lucas 18:13).

"Não existe neste pedido qualquer desculpa, qualquer tentativa de defender-se, qualquer reclamação contra a justiça da lei que o condenou. Em verdadeira humildade, Davi não culpa a ninguém a não ser a si mesmo." Como Davi descreveu o desespero de uma consciência culpada? Sal. 51:3; 32:3 e 4

Na prisão, Harry Orchard sofria de agonia mental ao recapitular sua vida passada – a esposa e sua filhinha que ele abandonara ainda bebê, a bebida e o jogo que o levaram mais fundo no pecado, a cadeia de terríveis crimes que cometeu. Ele viu um pequeno raio de esperança. Talvez Deus o pudesse perdoar. O Dr. David Paulson, do Hospital de Hinsdale, enviou-lhe uma pequena Bíblia, que ele leu diligentemente. Lá, ele descobriu a história do pecado e do arrependimento de Davi.

A Pura Verdade - Sal. 32:1-5; 51:1-6

De acordo com as orações de penitência de Davi, como se pode encontrar alívio da culpa? Sal. 32:5; 51:4

Depois que Natã apresentou a Davi a enormidade de seu pecado, este decidiu fazer uma confissão pública. Ele não tentou diminuir seu pecado insistindo no bem que fizera. Ao contrário, ele se aproximou de Deus como um pecador de nascença (v. 5), que suplica misericórdia. Ele até defendeu o juízo severo que o Senhor fizera de seu pecado (II Sam. 12:10; Sal. 51:4).

O que Deus requer do pecador? Sal. 51:6 e 7

A verdadeira confissão não desculpa o pecado nem culpa os outros. Como essa virtude é rara em nossos dias! Quantos milhões são gastos com advogados para achar brechas na lei! Quantas pessoas inocentes são castigadas enquanto os culpados continuam livres! Quanta injustiça existe neste mundo porque as pessoas não dizem a verdade!

Harry Orchard decidiu não fazer qualquer tentativa de salvar-se. Ele não queria negociar uma pena mais leve. Nem queria permitir que o sindicato, com seu poder financeiro, contratasse advogados para defendê-lo, mesmo sabendo que poderia sair livre, como aconteceu com tantos criminosos da mesma categoria. "Eu não podia encontrar qualquer saída", escreveu ele, "a não ser por uma confissão aberta, verdadeira, não importando as conseqüências, e sem a menor divergência ou modificação dos fatos." – Harry Orchard: The Man God Made Again, pág. 103. Esta resolução de contar a verdade capacitou-o a ser coerente no decorrer do intenso interrogatório por advogados decididos a desacreditar sua história. Quando o famoso advogado, Clarence Darrow, perguntou-lhe o verdadeiro motivo por estar contando sua vida de crime, ele respondeu: "Eu queria endireitar minha vida com Deus e com os homens, nos limites de minhas possibilidades." – Orchard, pág. 105.

"Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (Sal. 51:17).

O que você pode fazer por uma pessoa que recusa confessar seus pecados contra Deus ou contra os homens? Suponha que você esteja lutando com este problema. Como a oração poderia ajudar?

Limpo! - Sal. 51:7-15

O que a oração de Davi ensina sobre como nos purificar do pecado? Que figuras de linguagem Davi usa para descrever o que ele quer que Deus faça? Sal. 51:1, 2, 7 e 9

Davi não disse: "Senhor, preserva minha reputação", como fez Saul (I Sam. 15:30). Ele queria que Deus transformasse sua natureza pecaminosa.

Apagar quer dizer limpar o registro dos pecados nos livros que Deus mantém (veja Êxo. 32:32 e 33). Davi orou para que Deus não lançasse seus pecados contra ele no dia do juízo (Sal. 32:1 e 2).

Purificar com hissopo se refere ao ritual de purificação de um leproso mergulhando hissopo em sangue e borrifando-o na pessoa (Lev. 14:6 e 7). O escritor de Hebreus identificou o sangue borrifado com o sangue de Jesus (Heb. 12:24). Os israelitas também usaram ramos de hissopo para borrifar o sangue do cordeiro nos batentes de suas casas. Isso os manteve protegidos da morte (Êxo. 12:22), por simbolizar a justiça de Cristo, atribuída a eles pela fé.

Lavar branco como a neve sugere lavar roupas (Isa. 1:18). O resultado dessa intensa limpeza é uma peça de vestuário totalmente branca. "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve" (Isaías 1:18). O que mais Davi queria, além de ter a culpa removida? Que tipo de poder isso requeria? Sal. 51:10

Deus usa o mesmo poder com que criou o mundo para fazer restaurar o pecador. Harry Orchard sabia que Deus operara um milagre em sua vida. "Antes de Deus entrar em minha vida... eu podia ficar sentado horas a fio e ouvir histórias vulgares, imorais, jogar quase qualquer tipo de jogo, e dificilmente podia falar sem um rosário de palavrões. Com o novo nascimento, todas essas coisas antigas desapareceram de minha vida... . Elas ... não têm nenhuma atração para mim agora." – Orchard, págs. 153 e 154.

Davi não queria perdão apenas – mas purificação. Aqueles que conhecem o poder do perdão haverão de buscar intensamente, pela fé, um novo coração.

Reflexões Sobre o Pecado - Rom. 6:1-4

Deus Se alegra em erguer os caídos. Ele "pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus" (Heb. 7:25). Não importa quão terrível seja nosso pecado, Deus pode perdoar; não importa quanto nossa vida tenha sido danificada, Deus pode consertar.

Alguns dos maiores santos foram pecadores contumazes (até depois da conversão eles ainda tiveram suas lutas). Cristo assegurou ao ladrão na cruz um lugar no Paraíso. Paulo, o perseguidor, se tornou o grande apóstolo.

George Mueller, um jovem dissoluto, se tornou um grande homem de fé e um pai para milhares de órfãos. Depois de sua recuperação do alcoolismo, Bill Wilson fundou os Alcoólicos Anônimos. A salvação que todas essas pessoas experimentaram deu-lhes um ministério em favor dos pecadores.

Algumas pessoas poderiam ser tentadas a pensar que se a graça de Deus é tão abundante, por que não pecar ainda mais? Por que esta idéia está errada? Rom. 6:1-4

Todos os santos mencionados acima lamentaram seus pecados passados. Além disso, embora perdoe o pecado, Deus não impede suas conseqüências (Êxo. 34:7). O pecado de Davi levou à morte de quatro de seus filhos, provocou uma guerra civil e debilitou a fibra moral da nação. "Embora Davi se arrependesse de seu pecado, e fosse perdoado e aceito pelo Senhor, colheu os resultados da semente que ele próprio semeara." Os prazeres do pecado são "transitórios" (Heb. 11:25), enquanto os seus resultados são duradouros e amargos.

Leia o Salmo 130. Este salmo é outra oração de penitência. "É a confissão de um pecador que clama em desespero ao Senhor pedindo perdão. Ele reconhece que, se o Senhor lidasse com ele de acordo com seu pecado, seu caso não teria esperança. O Senhor Se revela a esse pecador como um Deus perdoador."

"Davi triunfou freqüentemente em Deus, mas tinha consciência da própria indignidade e pecaminosidade. Sua consciência não estava adormecida nem morta. ‘Meu pecado,’ ele clamou, ‘está sempre diante de mim’. Ele não se satisfez achando que o pecado era um assunto com o qual nada tinha a ver, e que não lhe dizia respeito. Ao ver as profundezas do engano em seu coração, repugnou-se profundamente consigo mesmo, e orou para que o poder de Deus o detivesse dos pecados da presunção e o limpasse das faltas secretas.".

"Era intuito de Deus que a história da queda de Davi servisse como advertência de que mesmo os que Ele abençoou e favoreceu grandemente não se devem sentir livres de perigo, e negligenciar a vigilância e a oração." As orações de penitência de Davi nos ensinam que, para nos reconciliar com Deus, precisamos ir a Ele como somos, confessar nossos pecados, pedir-Lhe que nos purifique e nos restaure. "O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia" (Prov. 28:13).